Vivo no cimo dum outeiro
Numa casa caiada e sozinha,
E essa é a minha definição.
Vivo en la cima del monte
En una casa enjalbegada y solitaria
Y esa es mi definición
*
Sei ter o pasmo esencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Sé tener el asombro esencial
Que tendría un niño si al nacer
Se diera cuenta que nació de veras...
Siento que nazco a cada momento
A la eterna novedad del mundo...
*
Procuro despir-me do que aprendí
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro
Mas um animal humano que a Natureza produziu
Busco desnudarme de lo que aprendí
Busco olvidarme del modo de recordar que me enseñaron
Y raspar la pintura con la que me pintaron los sentidos
Desencajonar mis emociones verdaderas
Desempacarme y ser yo, no Alberto Caeiro
Sino un animal humano que la Naturaleza produjo
*
Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravesa o rio a nado
porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar
No siempre logro sentir lo que sé que yo debo sentir.
Mi pensamiento sólo muy despacio cruza el río a nado
porque le pesa la ropa que los hombres le hicieron usar
*
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha,
É a minha maneira de estar sozinho
E se desejo às vezes,
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr-do-sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora
Pensar incomoda como andar bajo la lluvia
Cuando el viento crece y parece que llueve más
No tengo ambiciones ni deseos.
Ser poeta no es mi ambición,
Es mi manera de estar solo
Y si deseo a veces,
Por imaginar, ser corderito
(O ser todo el rebaño
Para andar desparramado por toda la ladera
Y ser muchos seres felices al mismo tiempo)
Es sólo porque siento lo que escribo en el crepúsculo
O cuando una nube pasa la mano por encima de la luz
Y por la hierba corre afuera un silencio
*
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Desde mi aldea veo cuanto desde la tierra se puede ver del Universo
Por eso mi aldea es tan grande como cualquier otra tierra
Porque soy del tamaño de lo que veo
Y no del tamaño de mi altura...
*
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda una oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos
Pero si Dios es las flores y los árboles
Y los montes y el sol y el luar,
Entonces creo en él,
Entonces creo en él a toda hora,
Y mi vida es toda una oración y una misa
Y una comunión con los ojos y por los oídos
*
Amar é eterna inocência,
E a única inocência é nâo pensar...
Amar es la eterna inocencia
Y la única inocencia es no pensar...
Alberto Caeiro, El Guardador de Rebaños (1914)
Merci beaucoup, Fayçal. Vous associez des mots et une musique qui sont depuis longtemps chers à mon cœur. Vale.
RépondreSupprimertres joli ton blog. lindo blog
RépondreSupprimerSourire d'âme partagé, caro Didier
RépondreSupprimerMuchas gracias, Mónica.